quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Duzentos anos depois de Adam Smith, o estudo do cérebro começa a explicar como se tomam as decisões econômicas

Por Época Negócios.

Primeiro foram os filósofos economistas, como Adam Smith, nos séculos 18 e 19. Depois vieram os economistas estatísticos do século 20, na esteira de John Maynard Keynes. Agora, parece, chegou a hora dos neuroeconomistas. Munidos de aparelhos de ressonância magnética, eles dispõem-se a avançar sobre a fronteira final da biologia – o cérebro humano – para entender in loco como se tomam decisões econômicas. Se a macroeconomia estuda países e a microeconomia analisa mercados, a “nanoeconomia” estuda o processo cerebral dos indivíduos. “Os modelos tradicionais simplificavam o comportamento humano por falta de instrumentos para explicá-lo”, disse a Época NEGÓCIOS Colin Camerer, de 46 anos, professor do Instituto de Tecnologia da Califórnia e um dos criadores da novíssima disciplina. “Agora nós temos os instrumentos. Não precisamos mais simplificar.”Altissonante em seus propósitos, a neuroeconomia pode ser banal em seus métodos. Voluntários vão para dentro de um aparelho de ressonância magnética e respondem perguntas que tentam emular decisões da vida real. Exemplo: você quer um voucher de 20% de desconto no McDonald’s para hoje ou prefere um de 40% para o mês que vem? O que emerge desses testes é a constatação de que o cérebro trata questões econômicas de forma conflituosa. Uma parte dele, o córtex pré-frontal, tende à racionalização e à lógica. Outra, chamada de córtex insular, ou ínsula, processa emoções. Diante de certas situações (incerteza, senso de injustiça, expectativa de gratificação instantânea), a ínsula se agita e a racionalidade desmorona (acompanhe no quadro ao lado). Nessas circunstâncias, o Homo economicus sai de campo. Com ele, desaparece a mão invisível que organiza o mercado. A rigor, não há surpresa nessas constatações. Sempre se soube que emoções e impulsos são antagônicos ao cálculo econômico. Mas a ambição dos neuroeconomistas vai além. Eles querem entender (e prevenir) desastres como as grandes quedas da bolsa e os movimentos de manada por trás delas. Ou, de forma controversa, pretendem obrigar por lei as pessoas a poupar uma parte do salário e garantir o futuro, a despeito de suas inclinações imediatistas.
    “Isso não vai a lugar nenhum”, opina o professor Luiz Gonzaga Belluzzo, da Unicamp. “A resposta a esses problemas não está no cérebro. Está na sociedade.” Em defesa dos neuroeconomistas, frise-se que seu argumento básico é razoável: as emoções existem, exercem enorme influência, mas não têm lugar no pensamento econômico tradicional. “O cérebro humano não é um detalhe irrelevante”, diz Camerer. Touché.


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