quinta-feira, 8 de julho de 2010

Livro usa 'nova economia' para explicar crime, casamento e salário do chefe

Em ‘A Lógica da Vida’, a economia explica o que parece irracional.

Custo e benefício estão na base das decisões, argumenta Tim Harford.


Laura Naime Do G1, em São Paulo


A esposa quer que o marido faça uma vasectomia, e ameaça uma "greve de sexo" se isso não acontecer. Já o marido sugere outra barganha: que a esposa ofereça mais sexo caso ele faça a cirurgia. Qual “incentivo” funcionaria melhor? Se você pensa que esse é apenas um problema de psicologia, errou. Tim Harford, autor de “A Lógica da Vida” (Editora Record) usa conceitos da “nova economia” para solucionar questões como esta. 



“A nova economia é uma forma econômica de pensar. É perceber que tomamos as nossas decisões pesando os custos e os benefícios, os riscos e as recompensas, e fazemos isso sem ‘saber’ realmente. Não pensamos economicamente só quando vamos às compras, pensamos dessa forma sobre o amor, vícios, política”, explicou o economista ao G1


“As pessoas estão todo o tempo calculando, às vezes inconscientemente, sobre os efeitos de suas ações. Não estou dizendo que as pessoas são egoístas, ou que elas gostam de dinheiro – não estou dizendo o que elas querem. Mas seja o que for que elas querem, agem de um modo surpreendentemente racional para conseguir”, diz. 

Para o economista britânico, essa nova economia pode explicar coisas tão díspares como por que o seu chefe ganha muito mais do que você mesmo que trabalhe menos, por que um Nobel de economia estaciona em local proibido e por que os adolescentes norte-americanos estão praticando mais sexo oral. 

Segundo Harford, que já trabalhou para o Banco Mundial e deu aulas na Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha, a explicação vem da famosa relação custo x benefício. 


Transgressão racional
No primeiro capítulo do livro, o economista relata seu espanto ao ver um senhor de cabelos brancos, Gary Becker, ganhador do prêmio Nobel de economia em 1992, estacionar o carro irregularmente em um shopping em Chicago. Becker, ele explica, comparou o ganho de não precisar pagar por uma vaga ao custo do risco de levar uma multa. É o que ele chama de “transgressão racional”. 


A mesma lógica se aplica (com ponderações, evidentemente) à criminalidade. Usando pesquisas realizadas pelo também economista Stephen Levitt – um dos autores do best-seller "Freakonomics" –, Harford aponta que os índices de criminalidade são menores em locais onde as leis e as punições são mais severas.


“Não estou dizendo que tudo o que você precisa saber sobre crime é que prisão funciona. Tem muitos outros fatores. O que eu digo é que uma das coisas que precisam ser levadas em consideração são os cálculos de custo e benefício. Mesmo os criminosos de 15 anos estão muito cientes dos riscos e levam isso em consideração na hora de cometer um crime ou não”, sustenta ele. 

O salário do chefe
A lógica econômica explica porque o seu chefe ganha muito mais do que você – e, pelo menos na sua percepção – trabalha muito menos. É a chamada teoria dos torneios: como é muitas vezes difícil mensurar o trabalho de cada um, e assim oferecer recompensas (aumentos ou promoções) com base em uma medida objetiva, a qualidade do que cada um faz é calculada em relação ao trabalho dos demais. A parte ruim é que há duas formas de ter um desempenho melhor que os demais: trabalhando mais, ou sabotando os colegas. 


Dessa forma, a “recompensa” do chefe não é calculada pelo seu desempenho atual, mas por aquilo que ele fez no passado. Há explicação até para que os “sortudos” ganhem mais: “Quanto mais sorte estiver envolvida, maior a recompensa que o chefe tende a receber. Porque se você sabe que, se trabalhar mais você vai se tornar chefe, então você não precisa de uma grande recompensa. Mas se você sabe que depende mais da sorte, você precisa de uma recompensa muito maior para se esforçar mais”, explica o economista. 

Sexo e o supermercado do casamento
Parece frio definir as relações entre duas pessoas em termos econômicos, mas Harford mostra que essa lógica também tem a sua participação – e ele não está falando da conta-corrente de ninguém. 


No caso dos adolescentes norte-americanos, a explicação dada no livro é simples: o risco de gravidez e de contrair doenças sexualmente transmissíveis faz subir o “custo” da relação regular. Já o sexo oral oferece benefícios semelhantes, a um custo menor. 

Harford faz uma analogia com um hipotético “supermercado do casamento” para mostrar que, quando há um número maior de mulheres do que de homens “disponíveis” para o casamento, as mulheres tendem a “baixar o preço”, isto é, oferecer mais para conseguir os homens disponíveis.

À medida que uma “baixa o preço”, as outras são levadas a fazer o mesmo para não “sobrar na prateleira”. Mas como não há homens suficientes, numericamente o resultado é sempre o mesmo, ou seja, um mesmo número de mulheres acabarão solteiras. 


Mas ele sugere soluções: “Talvez a sua filha possa encontrar um chinês bastante inteligente. Eles têm uma economia em expansão, não têm muitas garotas. Talvez o Brasil possa ampliar o seu comércio com a China nesse sentido”, brinca.


Vasectomia
Sobre o tema "vasectomia" citado no início desta reportagem, em sua coluna no jornal “Financial Times”, Hartford explicou a um leitor: “Não faz diferença (fazer ou não ou o procedimento).
E a explicação: o leitor precisa pensar em como vai fazer para o trato ser cumprido. Ele pode fazer a vasectomia e a esposa, depois disso, se negar a fazer sexo.
“Se sua relação não está boa, então você provavelmente não ficará casado por mais de cinco anos”, ponderou o economista. “Faça a conta de quantas vezes vocês deverão fazer sexo nesse tempo, e peça o pagamento antecipado. E bom, fazendo tanto sexo, de repente vocês até voltem a se gostar."

Nenhum comentário:

Postar um comentário