quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Resignação, quem???

Por PATRICIA FONSECA

   Confesso que às vezes fico espantada com o milagre da multiplicação que algumas pessoas realizam. Quem não conhece alguém sem dinheiro, mas que faz tudo que disse que não teria dinheiro para fazer? Hoje em dia infelizmente todo mundo conhece alguém assim, isso se não é uma dessas pessoas. Só que não existe milagre nem fórmula mágica em Economia e o triste fato por detrás da brincadeira é que a única coisa que de verdade essas pessoas estão multiplicando são suas dívidas, e é claro, a dor de cabeça anunciada que vem no mesmo prazo dos cheques pré-datados.
   No entanto, porque será que algumas pessoas fazem isso? Olhando de fora parece tão simples. Dá para cozinhar sem ingredientes? Não. Dá para construir sem material? Também não. Então se não se tem dinheiro para comprar. Pronto: não compre. No entanto, resignação parece uma palavra tão desconhecida da geração contemporânea quanto foi a palavra tecnologia há dois séculos atrás.
Porque abrir mão? Porque me negar um prazer? Antigamente se não tinha dinheiro no bolso, não tem choro nem vela, não vai levar para casa. Já hoje, com a diaba madrinha do crédito rondando por aí, as coisas mudaram. Não é preciso esperar, tudo pode ser agora, e assim o espectro do presente se expande na vida da pessoa.
   O problema é que como tudo na vida o crédito também tem seu lado positivo e negativo, ficando difícil distinguir quando a dose de vacina já virou veneno. A Economia Comportamental ensina que as pessoas sofrem de falta de auto-controle, ou seja, querem poupar e acabam comprando coisas que não precisavam, querem emagrecer mas não conseguem dizer não a um doce, e assim por diante. Se os indivíduos já têm dificuldade de se controlar naturalmente, imagine o que acontece quando ganham um passe livre para a Terra do prazer imediato, vulgo cartão de crédito?
   É nesse momento que a escolha vai passando de ser “dizer não à poupança” (gastar todo meu dinheiro) para “dizer sim a enfiar o pé na jaca” (gastar um dinheiro que nem meu é). O duro é que essa conta amarga um dia chega e cobra seus juros.
   Aristóteles já falou do meio termo de ouro, Confúcio do caminho do meio. Para nós pobres mortais o mais próximo de equilíbrio que conseguimos chegar é o meio-tempo do cartão de crédito. Quem sabe andando com o cartão de crédito dia sim dia não na carteira isso ajude em alguma coisa nosso desmotivado e assediado auto-controle.

Fonte: http://www.economiacomportamental.com/

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